domingo, 7 de janeiro de 2024

Insight

Lembro que quando criança, havia em vários desenhos que assistia, uma imagem de uma lâmpada surgindo sobre a cabeça do personagem, indicando que ele tinha chegado a uma resolução. Hoje sei que chamam isso de insight. Uma forma chique de dizer que alguém teve uma ideia, fez uma descoberta, teve um momento genial, se acometeu de um processo cognitivo que lhe revelou uma verdade.

Estive me atormentando nos últimos tempos, tentando entender o porque de estar tão encantado, tão obcecado por uma completa estranha, uma garota com toda uma vida pela frente, que me entregou um lindo sorriso, já no primeiro dia em que a conheci. Tenho passado noites sem dormir direito, tentando alcançar uma resposta para essa questão, que ao mesmo tempo é tão importante para mim e tão fútil para o mundo. E num momento qualquer, sem nenhum porque relevante, me veio a mente algo que está me pondo em lágrimas agora.

Eu projetei sobre uma completa estranha, a minha maior necessidade, algo que tenho evitado pensar, que me dói ter de aceitar neste exato instante. Eu almejo aprovação, sempre o quis, sempre desejei alguém que me aceitasse, como sou, pelo que sou. E é inevitável dizer, que tal criatura entrou em minha vida justamente num momento de “virada de chave”, um momento em que mais uma vez estou me reerguendo do chão, renascendo de minhas cinzas, recomeçando de onde parei. Por isso velhos sentimentos me sobrepujaram, por isso uma paixão avassaladora teve de ocorrer, por isso não fazia sentido me sentir tão eufórico, por uma musa da qual nada sei, com quem nada compartilho verdadeiramente.

Me sinto um completo idiota, a resposta era tão simples, estava na minha frente o tempo todo. Por isso me atormentava tanto, por isso me doía tanto, porque no fim estava apenas mantendo meu apego, me sustentando em meu ego, ferido muitas vezes ao longo dessa vida, de muitas formas diferentes, por muitas pessoas diferentes. Aprovação, aceitação, acolhimento, meramente alguém que me fornecesse isso. Fico abismado com o quão egoísta e hipócrita sou. Tenho buscado aceitar as imperfeições alheias, tenho buscado aceitar as pessoas como elas são, independente de como são, mas ao longo de todos esses anos, tenho sido incapaz de aceitar a mim mesmo, de perdoar a mim mesmo, por minhas falhas, por meus erros, por ser quem sou. Passei uma vida toda com medo do julgamento alheio, mas ainda assim esperando que alguém viesse e dissesse que está tudo bem em ser quem sou, em ser como sou. Mas ao longo dos anos não houve ninguém para me aceitar por completo e nem nunca haveria, afinal quem realmente precisa me aceitar sou eu. Depois de tantas palavras, de tantos poemas, de tantas conversas comigo mesmo, foi num momento de completo nada, que a resposta veio, caindo como um meteoro em minha mente conturbada.

Não é que a paixão não tenha ocorrido, ela existiu, em parte ainda existe, mas só surgiu, porque eu quis ver em um outro alguém uma esperança de que pudesse ser perdoado, por ser quem sou, de que pudesse ser amado incondicionalmente, de que pudesse ter ao meu lado uma alma gêmea, que compreendesse quem sou. Mas esperar por isso é uma completa perda de tempo, afinal não há no mundo quem melhor me conheça do que eu mesmo, não há quem melhor possa me julgar do que eu mesmo, que sei de todas minhas qualidades e defeitos.

Na busca pelo Nirvana, me encontrei comigo mesmo e por isso choro, ao mesmo tempo de alegria por finalmente compreender algo tão básico e tristeza por demorar uma vida toda para aceitar que o caminho, o real caminho tem de começar a partir de mim. Li tantas palavras, de inúmeros sábios, poetas, filósofos e ilustres desconhecidos. Achava que compreendia algo, mas a verdade é que não havia absorvido o que realmente diziam.

Sou um hipócrita, eu julguei tantos justamente por quererem a aprovação alheia, por almejar serem elogiados, vistos, desejados e no fim das contas sou só mais um neste mundo, almejando a mesma coisa, que alguém me reconheça, que alguém me veja e diga que vai ficar tudo bem, independente do caminho que escolhi. Aguardando um elogio, uma palavra de conforto, um amor incondicional. Que coisa horrível eu fiz, projetar sobre outro alguém o meu desejo, a minha necessidade de me amar.

A cura é um processo, me disseram, e agora eu compreendo. Uma vida de abandonos, dos outros para comigo, mas principalmente de mim para comigo mesmo. Realmente a vida é uma montanha russa de emoções, num momento há a aflição do desconhecido que me atormenta, e de repente estou aqui com o coração leve e a mente tranquila. Finalmente, mesmo que não eternamente, em paz comigo mesmo.

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