quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Der Garten


 

Há um lugar no meu coração onde só eu posso ir...

Lembro-me que quando jovem havia um belo lugar onde ia as vezes. Lá o céu era sempre azul, a grama era verde e as arvores cheias de vida.

Um dia algo começou a nascer neste "Éden" de Minh'Alma, um pequeno broto, o qual passei a observar com curiosidade e atenção. Este broto foi crescendo aos poucos, se transformando em uma bela planta, que logo tornou-se em um ramo e deu flores.

O tempo passou e novas flores surgiram, aqui e ali, e meu jardim D'Alma tornara-se em um lugar ainda mais belo.

Mas faltava algo, havia sempre um vazio em meio a tudo aquilo e eu não entendia o porque, até que um dia, sem nem um motivo especifico, uma rosa surgiu no meio de meu jardim. Ela era bela, mas perigosa, diferente das outras flores esta tinha espinhos, muitos espinhos. A rosa que surgiu era de um vermelho intenso, como o sangue que corre nas veias, como os lábios da mulher amada.

Imediatamente tornei-me fascinado por toda aquela beleza e me prostrei a admirar e observar apenas aquela bela flor esquecendo-me de toda a beleza que já havia ao redor.

Com o tempo a roseira foi crescendo e se expandindo, tomando conta de todo o jardim, chegando até mesmo a tomar o lugar de outras flores que ali haviam. E eu me encontrava tão fascinado que ignorava tudo que ocorria ao meu redor. Mas como tudo na vida, mesmo está beleza perdeu seu brilho, murchou e morreu. Quando dei por mim, e olhei ao meu redor, me vi cercado por milhares de espinhos secos e pontiagudos, ameaçadores para alguém que não conseguia entender as muitas circunstâncias da vida.

Me vi perdido e sozinho, em um lugar que agora me era estranho e tenebroso. Meu jardim havia se tornado um labirinto de espinhos, e ali me cortei e me machuquei por muito tempo, por mais tempo do que deveria.

Passei anos a procurar uma forma de acabar com todos estes espinhos, que me feriam bem mais do que a carne. Com o tempo fui eliminando todo o mal que havia ficado ali, por conta de uma beleza que me fascinou a ponto de esquecer-me de mim mesmo, de tudo de belo que havia em mim, de tudo o que eu era.

Neste meio tempo meu jardim permaneceu em estado de letargia, nada crescia, nada morria, nada mudava. O céu era cinza, as arvores mantinham suas folhas acastanhadas, era um permanente outono no jardim de Minh'Alma.

Muito tempo passou até que conseguisse eliminar os espinhos que me rasgavam a alma. E ainda assim, ficaram tantas cicatrizes em mim, que por muito tempo nada cresceu ali. E quando algo parecia querer brotar eu simplesmente arrancava antes que pudesse crescer e me ameaçar.

Meu jardim, tornou-se um lugar de inverno, as plantas murcharam as folhas das arvores caíram, e tudo que havia em mim, parecia estar morrendo.

Mas quando parecia que nada mais poderia ser feito, uma luz surgiu no céu de Minh'Alma, uma luz forte o suficiente para cegar alguém que passou tanto tempo perdido em escuridão. E aquilo me renovou de uma forma que não pude entender de cara. Aos poucos o céu foi tornando-se mais claro, as arvores voltaram a brotar suas folhas e até mesmo algumas flores renasceram. Mas ainda assim eu temia me machucar novamente nos espinhos de alguma rosa. Então toda vez que uma nova começava a surgir eu a destruía, passei muitos anos fazendo isso, temendo ser ferido ou ver essa beleza me consumir outra vez.

Muitas rosas diferentes surgiram ao longo do caminho, vermelhas, rosas, amarelas, azuis e até mesmo rosas negras. Mas meu medo era maior que meu fascínio e não deixei que nenhuma delas desabrocha-se, pois apesar das feridas estarem cicatrizadas a dor ainda permeava minha mente.

Ao longo do tempo, meu jardim cresceu novamente, e houve nele, dias de sol e de intensa chuva. Dias em que acreditei que tudo morreria de novo, mas a vida prosseguiu e tudo que havia em mim sobreviveu, mesmo as maiores tempestades. Mudanças ocorreram aqui e ali, e muito do que havia antes, não mais existia, mas muitas coisas novas surgiram e ocuparam seus lugares.

Por muito tempo mantive meu jardim fechado, mantive tudo e todos longe de meu coração, mas a vida prossegue e um dia as coisas sempre mudam. Recentemente uma outra rosa surgiu em meu jardim. Essa era de um amarelo vivido, e me encantei novamente, mas desta vez estava mais ciente, que por mais beleza que exista nestas rosas, se faz necessário poda-las com sabedoria, para que não venham a se alastrar e destruir tudo que existe no jardim. Infelizmente esta rosa esta morrendo, mas desta vez pela sabedoria do jardineiro que me tornei, soube controlar sua expansão. Sua morte não se deu pela poda, mas pela falta de vitalidade deste novo sentimento. Uma rosa só cresce forte e vivida se for regada com muito amor e reciprocidade. Infelizmente minha rosa amarela só existia para mim, e a realidade recaiu sobre suas raízes, quando encarei que nada podia se feito por um sentimento de um lado só. Se insistisse acabaria por me ferir profundamente nos espinhos dessa rosa amarela.

As paixões podem ser avassaladoras, os amores podem ser mágicos. Mas se apenas um lado vive esses sentimentos, seu jardim pode acabar se tornando um labirinto de espinhos, aprenda a podar seus sentimentos com sabedoria, pois do contrario você poderá se perder de si mesmo.

Um comentário:

  1. É muito legal quando a maturidade vem e conseguimos ter inteligência emocional para lidar com diversas situações que nos afligem, não é mesmo? Sobre o amor, não tem equação e nem fórmula para as coisas "darem certo", e podemos buscá-lo ou não, mas ele só acontece, de fato, quando estamos abertos a isso. Ótimo texto, houve desenvolvimento e isso trouxe profundidade. Que venham novos amores, e que desses, um que seja definitivo em sua vida porque você merece ser valorizado e amado, meu amigo.

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