terça-feira, 19 de dezembro de 2023

Degredado

 


Sou um pária na sociedade. Em um mundo onde demonstrar é considerado ruim, eu me derramo e me entrego de corpo e alma.

Me chamam de emocionado, desesperado, dizem que sou fácil demais, que me entrego demais, que demonstro demais.

Deveria eu ser mais frio e calculista? Deveria fingir não me importar, deveria viver na angustia de não dizer o quanto me importo? Deveria não demonstrar que gosto? Fingir que sou uma máquina, que não há um coração pulsando neste peito?

Quem me dera, não ter me envolvido com a poesia em minha juventude. Quem me dera ser capaz de ser tão cínico a ponto de sentir e nada dizer, nada demonstrar a esse respeito. Quem me dera não ter nascido com um coração que dói e clama por amor e carinho. Quem me dera ser como os “normais”, que passam suas vidas almejando o tudo que existe nos sentimentos, sem os demonstrar nunca a ninguém. Quem me dera fosse capaz de ser desapegado e distante como o mundo exige de mim. Mas não sou. Nasci com um coração que pulsa sangue e não óleo de motor. Um coração que vibra e se emociona, e jorra palavras carregadas de sentimentos.

Não nasci máquina, sou feito de carne, ossos e sentimentos. Sou o amor, a luz e a compaixão que existem em mim. Não sei ser menos intenso, não sei não demonstrar, não sei não sentir. Ou eu sou algo, ou eu nada sou. Não sou meio termo, sou quente como o fogo, sou brasa de fogueira, sou a lava de um vulcão. Sou o fogo que crepita os sentimentos do mundo, do meu mundo. Sou a chama que aquece os corações alheios, sou a luz que ilumina as trevas nos corações aflitos. Eu sou meus sentimentos, eu sou meu coração e meu coração não sabe não sentir. Nele habitam a dor e o medo é verdade, mas também é nele que se encontra toda compaixão, todo amor, todas as paixões que senti e sentirei em minha tola, mas magnifica existência.

Sou um proscrita neste mundo, inundado de sentimentos que transbordam de minha alma. Eu sou o que sinto, e se demonstro é porque não sei ser menos do que eu mesmo. Tentei, eu juro, agir como o resto do mundo, frio, distante, desapegado de sentir. Mas tudo que consegui com isso, foi me perder e me martirizar, por anos a fio, com uma dor e uma sensação de vazio que me fizeram enlouquecer a ponto de me afundar tão profundamente em meu abismo que eu cai e não fui capaz de me levantar por muito tempo.

Se sentir for um pecado eu sou um condenado, pois tudo que há em mim neste momento são sentimentos, e eles transbordam, eles irrompem, eles me dilaceram as entranhas. Passei tempo demais tentando ser o que o mundo queria, e me perdi numa sociedade doente, carente de fazer o básico que é sentir.

Não me entregarei mais, me armarei com o que há de melhor em mim e partirei para esta guerra chamada vida, onde a sociedade estará contra mim, contra tudo que sou, contra os sentimentos que carrego e distribuo como alimento aos famintos. E que Deus me perdoe se eu estiver errado, mas seguirei com minhas convicções, pois não sei ser menos do que sou. Eu sou meus sentimentos, meus sentimentos são o que sou e se o mundo diz que isso é errado, já não quero mais fazer parte deste mundo.

Serei o farol que iluminara os corações daqueles que se escondem nas sombras de suas dores, de seus temores, de seu não demonstrar. Serei verdadeiro comigo mesmo e com o mundo, e se preciso for, me tornarei um mártir, pelos sentimentos que carrego comigo. A luta será intensa e talvez isso me destrua aos poucos, mas como já disse e repito, não sei ser menos do que sou, não sei deixar de demonstrar e se um dia o fizer, tenho a certeza que morrerei como ser humano e eu já estou cansado de ter de renascer de minhas próprias cinzas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário