As palavras me invadem novamente, como se nunca tivessem deixado de estar ali. Sinto-me nostálgico e enjoado ao mesmo tempo. É como rever um velho lugar que um dia lhe foi tão comum, mas que você partiu deixando para trás, um passado fugaz.
O tempo é uma coisa engraçada ele não deixa de prosseguir,
sempre em frente, como um navio a velas, mas ainda assim os ciclos parecem se
repetir. Aqui estou mais uma vez inundado de sentimentos e palavras, que me
escapam pelos dedos, fazendo comparações e dando exemplos como um professor do
fundamental. Não entendo o que devo fazer com tudo isso novamente. As palavras
vêm e vão quando querem, não as controlo, não as domino, não tenho mais a
intimidade que tive com elas um dia. Somos como velhos amantes que se reveem depois
de anos, tentando encontrar algo que nos conecte, que nós una e nós torne um só, como já fomos uma vez. Buck disse uma vez, que são poucos os sortudos que
conseguem ter essa união e a manter. Pra maioria de nós, meros mortais, as
palavras apenas vêm quando desejam, quando não cabem mais na mente e no
coração.
Não sei o que quero dizer, se é que já houve algo a ser
dito, só desejo escrever e escrever sem ter bem um por que ou um pra que. A
muito tempo isto era motivo de felicidade, hoje já não me sinto mais a vontade
comigo mesmo ou com as palavras que brotam de mim. Sinto-me distante dessa
realidade, dessas pessoas e até de mim mesmo. Os ciclos se repetem. A queda
vem, então há a retomada da caminhada do zero, do fundo do poço. Surgem novas
pessoas em minha vida, e velhos rostos vem e vão. Paixões surgem e se despedaçam,
se juntando a poeira do vento. E então elas aparecem, se acumulando em minha
mente, perturbando minhas emoções, as velhas e tão conhecidas palavras
aleatórias.
Não nego que há amor e até orgulho em velas outra vez, porém
não me sinto como um poeta ou um escritor, não sinto que haja em mim a dadiva
das palavras, me parece que elas apenas me usam como acham melhor, para depois
irem embora para seus verdadeiros amantes. Talvez eu esteja apenas mais louco
que o normal, talvez seja só um rompante sem sentido, de algo que estava por me
afogar, mas que vazou por meus dedos. Talvez seja só outra ilusão de minha
mente perturbada.
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